Capacidade de produção de ônibus elétricos na América Latina é tema de discussão entre especialistas e líderes industriais

[14 de junho de 2022] A Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL) das Nações Unidas realizou, em 9 de junho de 2022, o webinar “Capacidade de Produção de Ônibus Elétricos na América Latina”. Ao longo do webinar, que foi realizado em português e em espanhol, foi discutida a estrutura produtiva de ônibus elétricos nos países latino-americanos, visando identificar as capacidades instaladas, as oportunidades e os gargalos produtivos, bem como perspectivas de crescimento para o setor nacional e regionalmente. Além de apresentar análises técnicas conduzidas por especialistas nas indústrias da Argentina, Brasil, Colômbia e México, o webinar também promoveu uma discussão e o intercâmbio entre líderes da indústria automotiva sobre seus pontos de vista em relação aos avanços e desafios da transição para a eletromobilidade na região.

O webinar ocorreu no âmbito do Programa Cidades Inclusivas, Sustentáveis e Inteligentes (CISI), desenvolvido pela CEPAL em cooperação com o Ministério Federal Alemão de Cooperação Econômica e Desenvolvimento (BMZ), por meio da Cooperação Técnica Alemã (Deutsche Gesellschaft für Internationale Zusammenarbeit – GIZ). O Programa CISI tem por objetivo contribuir tecnicamente para o desenvolvimento sustentável da conectividade urbana na América Latina. O Programa CISI tem como foco algumas das principais metrópoles da região, incluindo Bogotá, Buenos Aires, Cidade do México e São Paulo.

Álvaro Calderón, Chefe da Unidade de Inovação e Novas Tecnologias da CEPAL, juntamente a Manfred Haebig, Coordenador do Programa CEPAL-BMZ/GIZ, abriram o webinar com ponderações sobre o contexto de crise que a América Latina atravessa e que foi agravado com o advento da pandemia de COVID-19. Segundo Álvaro Calderón, a oportunidade da eletromobilidade e a expansão das capacidades produtivas locais pode engendrar um círculo virtuoso capaz de gerar crescimento econômico com sustentabilidade na região. Já o Coordenador do Programa CEPAL-BMZ/GIZ, Manfred Haebig, reafirmou a importância do Programa CISI em promover diálogos e análises que apontem soluções para um transporte público de qualidade e um futuro desejável para a população da América Latina.

Em seguida, Camila Gramkow (Oficial de Assuntos Econômicos do Escritório da CEPAL no Brasil) apresentou a abordagem do Grande Impulso (Big Push) para a Sustentabilidade, baseada na coordenação e articulação de políticas para mobilizar investimentos transformadores do estilo de desenvolvimento. Nessa abordagem, o conjunto de investimentos complementares e em escala necessários para a transição para um modelo econômico de baixo carbono, sustentável e inclusivo pode ser um grande impulso (Big push) para a recuperação do crescimento econômico com inclusão produtiva. Segundo a Oficial, a mobilidade sustentável e, em especial, a eletrificação dos ônibus, representa uma das grandes oportunidades para o Grande Impulso para a Sustentabilidade nos países da América Latina, ao contribuir para criar um ciclo virtuoso de crescimento econômico, eficiência, redução de poluentes e de emissões de gases do efeito estufa, com impactos positivos sobre a saúde, a qualidade de vida, a produtividade e a competitividade.

No primeiro painel do webinar, os consultores da CEPAL, especialistas do setor automobilístico e sustentabilidade Martín Quiroga (Argentina), Cristina Vazquez (México), Juan Pablo Bocarejo (Colômbia) e Robson Cruz (Brasil) trouxeram análises técnicas, avaliações e perspectivas sobre a mobilidade sustentável e produção de ônibus de tecnologia elétrica em cada país.

Segundo o especialista da Argentina, há uma tendência progressiva de descarbonização do setor e, em cenários de renovação da frota de ônibus, a tecnologia elétrica poderia ser uma das soluções preponderantes. No entanto, Martín Quiroga destaca a relativa baixa idade média da frota atual, os altos custos de aquisição, requerimentos de infraestrutura e falta de financiamento para que seja feita tal renovação. Por outro lado, há fatores possibilitadores, dentre eles, a maturidade da indústria automotiva nacional da Argentina, experiências de retrofit e capacidade de adaptabilidade e fomento, que podem facilitar a transição rumo à eletromobilidade no país.

A respeito da perspectiva do México, a especialista Cristina Vazquez apresentou um panorama da indústria automotiva no país que, apesar de ser a 9ª no mundo em termos de produção de ônibus, não apresenta indústria nacional para produção de ônibus de tecnologia elétrica. Porém, o país conta com a presença de variadas empresas chinesas, que, por importação, trazem para o mercado opções deste ônibus. Desde 2017, 556 unidades desta tecnologia foram importados para transporte urbano. Há uma expectativa de transição à eletromobilidade de modo progressivo e de médio a longo prazo no país. São necessárias, segundo a especialista, políticas de desenvolvimento transversais para essa transição.

O especialista Juan Pablo Bocarejo, da Colômbia, apresentou as dinâmicas e perspectivas da indústria colombiana de ônibus de baixa emissão. De acordo com o especialista, as metas nacionais são ambiciosas: até 2035, 100% dos veículos adquiridos para sistemas de transporte público devem ser de zero emissão. A característica da indústria da Colômbia é uma tipicamente de montagem, isto é, importam-se os chassis do ônibus, sendo a maior parte de origem brasileira, enquanto o encarroçamento é realizado nacionalmente. Em sua análise, apesar de a Colômbia ter se convertido em um líder regional na operação de ônibus elétricos e a gás, os custos ainda são altos e são necessárias políticas que fortaleçam a cadeia e o tecido produtivo interno do país.

Fechando o painel de análises técnicas, Robson Cruz, especialista em Brasil, compartilhou dados que atestam o protagonismo do país na produção global de ônibus e o seu papel de relevância para o mercado de exportação na América Latina. A robustez das competências produtivas e tecnológicas instaladas no país para produção de ônibus a diesel é, em sua compreensão, fator favorável para a produção dos ônibus de tecnologia elétrica. Ele comentou, porém, sobre o custo das baterias como um desafio, assim como a necessidade de adaptação da cadeia de fornecimento e dos parâmetros de manutenção e operação desses novos ônibus.

A segunda parte do webinar contou com participação dos líderes da indústria: Luiz Carlos Moraes (Vice-Presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores – ANFAVEA) e Ignacio Armendariz (Gerente Comercial da Agrale da Argentina). Moderado por Edgar Barassa (Consultor da CEPAL), os líderes industriais interagiram em uma rodada de discussões na qual expuseram seus pontos de vista em relação aos avanços e os desafios a partir da perspectiva da indústria sobre a transição para a eletromobilidade na região.

Os convidados comentaram sobre as perspectivas da capacidade de produção de ônibus elétricos no Brasil e Argentina no curto, médio e longo prazo e sobre a necessidade de se implementar políticas públicas ativas para o desenvolvimento da cadeia de ônibus elétricos. Os líderes industriais refletiram sobre as oportunidades de integração regional das cadeias de valor, citando a bateria como um possível componente com potencial de desenvolvimento local, haja vista as reservas de lítios disponíveis e capacidade de desenvolvimento tecnológico da região.

O webinar, que contou com a moderação de Gabriela Oliveira (Consultora do Escritório da CEPAL no Brasil), permitiu apresentar e discutir informações técnicas e perspectivas estratégicas sobre os desafios, as oportunidades e as grandes tendências para a transformação do transporte urbano e produção de ônibus de baixa emissão de carbono nos países latino-americanos.

A gravação do webinar está disponível em:

https://youtu.be/j5ZdWCVCDmw – Português

https://youtu.be/wegGTHh7v1c – Español

As apresentações podem ser encontradas nos anexos no menu lateral.